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terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Os Portões do Palácio

O Rei se levantou do trono para polir sua coroa. Ela é feita dos mais limpos papéis amassados, reluzente e cravejada pelos enfeites que pôde encontrar no caminho. Todo um reino a controlar, tão pouco tempo se tem, as horas passam tão veloz quanto os duelos entre cavaleiros. Ah, o que seria deste reino sem este Rei? Seus súditos apressam-se em poder ouvi-lo, a multidão espera por um breve momento em que possa vê-lo, mesmo que por meros segundos.

Do alto da mais alta torre, ele contempla todo seu império conquistado com muito suor. É digno de vastos pensamentos que parecem aumentar ainda mais todo o território já conquistado. Ele sorri. Seu reino é justo, não há guerra, ou fome. Trata as pessoas por igual, sejam simples aldeões, sejam bispos e condes. Há muito motivos para se orgulhar do que tem, mas há pouco tempo para se apreciar tanta beleza.

A masmorra é a mais alta torre do palácio, onde o Rei está preso. Ele pregou a igualdade, foi contrariado pelos nobres e decidido que seria trancafiado e seu parente mais próximo, um ambicioso conde, ficaria no poder, elevando as taxas e elitizando ainda mais o estilo de vida da nobreza. Ah como é injusto pensar que este mundo é que é o mundo real e que um Rei que poderia mudar o mundo, agora vive preso, drogado em seus devaneios, acreditando que tudo é como sempre quis que fosse.

O Rei não tem como fugir. As paredes são grossas. Barras de ferro na janela. Foi dado como morto. Poucos sabem quem vive na masmorra, ainda menos pessoas tem acesso a ela. Mas o rei vive feliz, ele sorri, suas gargalhadas são contagiantes. Ele ainda vive no seu mundo de igualdade, não percebe que está preso e só há muitos anos. Não percebe que perdeu sua razão, mas vê seu reino, ainda limpa sua coroa feita dos restos que encontrou naquela prisão, ainda encontra forças para sonhar e viver em seu mundo, em seu infinito particular, onde o cetro e o manto sagrado são de veludo e não de restos de roupas rasgados. Ainda é o mesmo Rei que sonhou com a igualdade, mas que o poder da nobreza o impediu de levar adiante um sonho onde a nobreza, clero e plebeus fossem realmente iguais. Pobre Rei. Viveu uma utopia, adormeceu e acordou encarcerado, até o fim de seus dias, e, nunca mais ouvi-se falar da igualdade entre as três classes. Pobre Rei que pereceu séculos atrás. Pobre de nós que nunca pudemos escutá-lo. 

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