Deixei me levar pela imaginação até os longinquos moinhos de vento, passei pelas estranhas estátuas da Ilha de Páscoa, vi desertos soterrados tornarem-se florestas tropicais. Vi aquele velho trem percorrer um caminho longo sem trilhos, deixei de plantar os cata-ventos nas memórias do futuro. Vi aquela pilha de livros ironicamente deixados sob a sombras das árvores, esperando que um dia sejam novamente abertos em suas páginas não marcadas.

Quando a noite chegou as pilhas do controle remoto pifaram. Não podia mais fazer nada. Não queria mesmo fazer. Ir além, ir adiante, olhar os lados... por quê? Onde quer que esteja, onde que possa chegar, não vai me satisfazer por completo, mas o que pode completar essa satisfação? O que pode ser ir além? Quero apenas lembrar que posso ser esquecido e deixado de lado, talvez seja um pedido complexo numa sociedade que se preocupa em viver a vida alheia, mas é simples, não é nada demais.
Talvez algum dia lembre de colocar o lixo pra fora na hora certa, talvez com um pouco de sorte até me levante mais cedo sem razão nenhuma e siga todos os caminhos que já ignorei, deixando de lado as escolhas que um dia fiz, pensando apenas em não ser igual, mas segui por um lado inconstante e controverso que foge a minha própria realidade mostrando que toda a indiferença que cultivei não me levou tão distante daquilo que sempre evitei. Talvez por isso, não lembramos sempre do que acontece.
* agradecimentos à Nathalia que me deu esse final do texto. Obrigado!!!